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Petrolina, Pernambuco, Brazil
Sociedade de Psicanálise e Psicopedagogia, desde 2003. Interessados contate-nos: 87 8808 1060, 87 9988 1579.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA

 
 
 
 
 PSICANÁLISE, UM ESTILO DE VIDA!
 
 
 
 
 
 
 
 
 APENAS UM TRECHINHO.....
 
CALLIGARIS, Contardo. Cartas a um jovem terapeuta:
Reflexões para psicoterapeutas, aspirantes e curiosos. Elsevier editora: Rio de Janeiro, 2004.
No livro Cartas a um jovem terapeuta, Contardo Calligaris faz uma reflexão acerca da prática do psicoterapeuta/psicanalista, abordando seus dilemas, ansiedades e temas que causam inquietações, a partir das cartas de dois jovens profissionais. O livro se divide em 11 capítulos onde o autor respondendo às correspondências, trata de diversos temas como os requisitos básicos para ser terapeuta, como se da à formação acadêmica, a questão da cura e também trás a sua própria experiência com psicanalista.
Inicialmente Calligaris sugere que o psicoterapeuta tenha gosto pela palavra, curiosidade pela variedade da experiência humana, que tenha certas doses de inquietações e sofrimento psíquico. Cabe observar, que este sentimento leva o futuro terapeuta ao lugar de paciente, fazendo com que ele possa experienciar estes dois lugares: de futuro terapeuta e analisando. Por está envolvido com várias subjetividades envoltas em movimentos conscientes e inconscientes é necessário que o terapeuta também se cuide, para separar os seus sentimentos dos sentimentos dos pacientes e para resolver suas próprias questões subjacentes.
O livro todo é instigante e de fácil leitura, no entanto o capítulo que mais chama atenção por satisfazer a curiosidade dos jovens terapeutas a respeito do funcionamento de uma sessão é o Questões Práticas. Calligaris nesse capítulo, nos fala de como está estruturada a sessão, qual a sua duração, quais são as regras, qual a importância da escuta, como e quando o paciente deve ser convidado ao divã.
Cartas a um jovem terapeuta é leitura fundamental para todos que estão em formação ou se interessam pela área de psicologia e psicanálise, por ampliar nossa visão acerca da prática da profissão.


LEITURA RECOMENDADA PELA SOPSY - SOCIEDADE DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA.

quarta-feira, 7 de março de 2012

PSICANÁLISE, UM ESTILO DE VIDA!


SOPSY
SOCIEDADE DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA RUA DR. JÚLIO DE MELO 123, CENTRO PETROLINA-PE. TEL.: 87 3862 0154 / 87 8808 1060 / 8861 0007
PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PSICANALISTAS
Petrolina – PE
SPOPSY SOCIEDADE DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA
UM ESTILO DE VIDA!
Propõe-se a fazer uma formação múltipla, não só no que se refere a um livre trânsito entre as diversas escolas dentro da psicanálise, mas, também em uma aproximação dos campos da biologia, da física, da filosofia, da religião, da educação, da antropologia, da música, da arte, e naturalmente da psicanálise. Sendo próprio da Psicanálise, andar por áreas de transição e intersecção entre as diversas ciências, artes e culturas. Segundo FILON de Alexandria Terapia é a arte da interpretação, sendo mais específica, o terapeuta é aquele que cuida, serve e honra.
Dito isso, a SOPSY SOCIEDADE DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA, tem como objetivo contribuir para a formação de Psicanalistas para o exercício da profissão ou apenas conhecimento pessoal e, o aperfeiçoamento dos Psicopedagogos, através de um programa de ensino sistematizado, bem como, garantir a especificidade de suas práticas, fornecendo subsídios para que estes possam construir sua própria identidade terapêutica. Esse ensino se desdobra em dois grandes eixos: o primeiro, que visa à transmissão teórica da clínica, introduzindo a prática e a teoria que fundam o tratamento analítico, que sustentam o ato analítico. Por outro lado, há o eixo da clínica da transmissão, em que se procura pensar, a partir dos pressupostos dos fundadores, as dificuldades e vicissitudes concretas que a transmissão enfrenta.
QUANTO A REGULAMENTAÇÃO:
O Curso de Formação em Psicanálise é um Curso de caráter Livre no Brasil, porém, é reconhecida e amparada pela Portaria 397 de 09/10/2002 do Ministério do Trabalho e Emprego – CBO nº 2515-50 e Aviso 257/57 do Ministério da Saúde; Decreto Federal 2208 de 17/04/97, Portaria 397 do Ministério do Trabalho, Parecer CONJUR/MS/CMA 452/2. Diploma legalmente emitido pelo Departamento de Cursos da APPC- ASSOCIAÇÃO DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA é uma Sociedade cientifica de caráter civil.
DESTINADO A:
Qualquer pessoa que possua nível superior, ou em fase de conclusão, de qualquer área do conhecimento científico.
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DURAÇÃO: 32 Meses
UMA VEZ AO MÊS - SEXTA À NOITE E SÁBADO O DIA TODO.
NO TOTAL DE 12HORAS/AULA;
Frequência mínina de 70% no curso.
GRUPOS DE ESTUDO PARA PROFISSIONAIS E ALUNOS - QUINZENALMENTE. ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DA EXIBIÇÃO DE UM FILME - QUINZENALMENTE.
Do Processo Seletivo:
Primeira etapa:
Inscrição no valor de R$ 50,00, preenchimento da ficha e entrevista pessoal agendada pela Instituição.
Segunda etapa:
Entrega da documentação necessária para a matrícula, formalização do contrato para os candidatos que passaram na primeira etapa
Aulas uma vez ao mês (sexta feira à noite e sábado o dia todo); Seminários e grupos de estudo em datas e horários estabelecidos pela Instituição como complementação da carga horária e aprofundamento da disciplina ministrada.
Professores especialistas, mestres e doutores.
DIPLOMAÇÃO: Diploma de Formação em Psicanálise emitido pelo Departamento de Cursos da SOPSY – SOCIEDADE DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA de acordo com CBO nº2515-50 do Ministério do Trabalho.
CARGA HORÁRIA:
620 horas
a) 300 horas - aulas presenciais
b) 65 horas - grupo de estudos
c) 65 horas de Análise Pessoal (não inclusa na mensalidade)
d) 35 horas - Pacientes-piloto
e) 15 horas de Supervisão (despesa individual do aluno)
f) 20 horas de pesquisas e estudos de trabalho monográfico
g) 120 horas - atividades extraclasses.
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MONOGRAFIA Tema sugerido de uma relação apresentada pela SOPSY.
HORÁRIO DAS AULAS PRESENCIAIS
Sexta feira das 18h.30min às 22h00
Sábado das 8h00 às 12h00 e 14h00 às 18h00.

                                                           RELAÇÃO DOS MÓDULOS:


I SEMESTRE
ANTROPOLOGIA E PSICANÁLISE SOCIOLOGIA E PSICANÁLISE;
PSIQUIATRIA APLICADA A PSICANÁLISE;
ÉTICA PSICANALÍTICA; PSICANÁLISE I;
FILOSOFIA, MITOS, RELIGIOSOS E PSICANÁLISE.

II SEMESTRE
PSICANÁLISE II;
SEXOLOGIA APLICADA A PSICANÁLISE;
FUNDAMENTAÇÃO DA TÉC. PSICANALÍTICA;
PSICANÁLISE III;
NEUROCIÊNCIA/NEUROFISIOLOGIA E PSICANÁLISE;
INTERPRETAÇÃO DE SONHOS.

III SEMESTRE
PSICANÁLISE IV;
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO;
PARAPSICOLOGIA E PSICANÁLISE;
PSIC. BREVE DE BASE ANALÍTICA;
PSICANÁLISE V;
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS E PSICANÁLISE.

IV SEMESTRE
PSICANÁLISE VI;
PSICANÁLISE DA CÇA E ADOLESCÊNCIA I ANNA FREUD;
TERAPIA DE GRUPO E PSICANÁLISE;
PSICANÁLISE VII;
PSICANÁLISE DA CÇA II - FRANÇOISE DOLTO;
PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA.

V SEMESTRE
PSICANÁLISE CONTRIBUIÇÕES DE BION;
PSICANÁLISE DA CÇA III MELANIE KLEIN;
SEMINÁRIO DE LACAN;
PSICANÁLISE DE CÇA IV WINNICOT;
PSICOFARMACOLOGIA E PSICANÁLISE;
AULA DA SAUDADE.





Encontros Quinzenais
Grupos de Estudo
* Realização dos Seminários de Lacan; * As dissenssões C. G. Jung e Alfred Adler, em relação à Psicanálise Freudiana.

Credenciamento:
Aos PSICANALISTAS, PSICOPEDAGOGOS E PSICOTERAPEUTAS formados e ou especialistas que desejam filiar-se a SOPSY e receber seu credenciamento (Válido em todo Território Nacional), inicialmente deverão enviar por e-mail o Currículo Vitae ou, entregá-lo em nossa sede no PRÉDIO DA PROLABOR na Rua Dr. Júlio de Melo 123, Centro Petrolina (atrás do banco Itaú). Informamos aos candidatos que, após enviar-nos, estes, estarão sujeitos às avaliações através da Diretoria da SOPSY. Após análise e caso haja aprovação do Currículo Vitae, o profissional deverá providenciar os seguintes documentos:
 1. PREENCHIMENTO DA FICHA DE CADASTRAL

 2. REQUERIMENTO FEITO AO PRÓPRIO PUNHO SOLICITANDO O CREDENCIAMENTO
 3. RECIBO DO DEPÓSITO REFERENTE AO PAGAMENTO DA ANUIDADE
 4. 2 FOTOS 3X4
 5. CÓPIA DO RG E CPF OU HABILITAÇÃO (AUTENTICADO)
 6. CÓPIA DO TÍTULO DE ELEITOR
 7. CÓPIA DA CARTEIRA RESERVISTA (PARA HOMENS)
 8. CÓPIA DO REGISTRO DE NASCIMENTO OU CERTIDÃO DE CASAMENTO
 9. CÓPIA DO HISTÓRICO OU DIPLOMA DO CURSO SUPERIOR
 10. CÓPIA DO COMPROVANTE DE ENDEREÇO (ÁGUA, LUZ OU TELEFONE)
 11. RESULTADO DO TESTE DE LÍTIO
 12. CÓPIA DO CERTIFICADO DO CURSO DE PSICANÁLISE (AUTENTICADO)
 13. CÓPIA DO CERTIFICADO DE ESPECIALIZAÇÕES.

ATRIBUIÇÃO AOS CREDENCIADOS:

1. (PARA O PSCICANALISTA FORMADO) Carteira de Psicanalista Credenciado;
2. (PARA O PSICOPEDAGOGO em fase de conclusão) Carteira de concluinte em Psicopedagogia, para os que já concluíram Credenciamento profissional;
3. Descontos nos Cursos, Congressos, Jornadas e Seminários promovidos ou apoiados pela SOPSY;
4. Certificado de Credenciamento correspondente ao ano vigente;
5. Indicação profissional.

TELEFONES PARA CONTATO: (87) 8861 0007 /(87) 8808 1060.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O DESEJO DE, OU DO ANALISTA?




Por Sérgio Scotti

         Defrontados com a questão do desejo do analista, deparamo-nos com o desejo que herdamos de Freud o qual segundo Lacan, nunca foi analisado.
         "O verdadeiro é talvez apenas uma coisa, é o desejo do próprio Freud, isto é, o fato de que algo, em Freud, não foi jamais analisado." (Lacan, 1990, p. 19)
         Mas como dar conta de um desejo que morreu com o pai da psicanálise?
         Na verdade, o desejo de Freud embora não analisado, permanece em cada analista que se propõe a continuar o exercício de um saber que ele transmitiu. Sim, pois a rigor é somente o saber que se pode transmitir, ficando o desejo a cargo de cada analista. Então, o desejo de Freud se liga ao desejo de cada analista quando este, sustentado por um saber inaugurado por aquele que nos deu as linhas mestras da psicanálise, procura ocupar o lugar daquele que perante o analisante é suposto saber.
         No entanto o que é que faz, para cada analista, querer sustentar um lugar que paradoxalmente, ao se ater à regra fundamental propõe na verdade, como assinala Lacan, o analisante como suposto saber?
         "Eu insisti freqüentemente nisto, que nós somos supostos saber não grandes coisas. O que a análise instaura é justamente o contrário. O analista diz àquele que está para começar - Vamos lá, diga qualquer coisa, vai ser maravilhoso. É ele que o analista institui como sujeito suposto saber." (Lacan, 1992, p. 50).
         Se há um saber do analista, é um savoir-faire que não dá conta do saber do analisante a respeito de seu próprio desejo. Portanto, poderíamos dizer que o desejo de analista que sustenta o seu lugar paradoxal, é o desejo do desejo do analisante?
         Fiquemos provisoriamente com esta questão para perguntarmo-nos sobre o lugar que segundo Lacan, é o de um objeto; o objeto a.
         "Vejamos o que aqui está em jogo no discurso do analista. Ele, o analista, é que é o mestre. Sob que forma? Isto é o que terei que reservar para os nossos próximos encontros. Por que sob a forma de a?" (Lacan, 1992, p. 33).
         Temos então que o lugar de objeto a, ocupado pelo analista, é sustentado por um saber fazer e por um desejo que tem como ponto de mira o desejo do analisante.
         A princípio isto está de acordo com a fórmula de Lacan que nos diz:
"O desejo do homem é o desejo do Outro" (Lacan, 1990, p. 223).. Mas, isto ainda não nos esclarece a natureza de um desejo que se manifesta justamente no lugar do analista e não num outro qualquer. E isto nos leva a pensar que o lugar do analista não é para qualquer um mas, para um qualquer que queira ocupar o lugar de objeto na análise.
         Talvez possamos entender então o desejo do analista pelo lugar que ele visa ocupar. O lugar de objeto, mesmo que seja o de causa do desejo, pois é assim que Lacan define o analista, como objeto a, "Ele, o analista, se faz de causa do desejo do analisante." (Lacan, 1992, p. 36), não deixa de ser também o de um resto. Um resto que o analisante deverá deixar cair ao final de análise. Então, por quê o analista desejaria ter como destino na análise, o de um resto que aparentemente não alimenta em nada seu narcisismo? Pois, para destituir-se do lugar de sujeito e, mesmo como objeto, ser reduzido a um resto, só mesmo sendo um santo, o que o analista não é, como diz Lacan ou, seguindo uma homofonia possível em francês, ser destinado à poubelle (lixo), aproxima-se da finalidade plus belle (a mais bela), ou ainda, no nosso idioma, o jogo de palavras possível de que o lixo é um luxo.
         Isso não está em desacordo com o que dissemos antes sobre o desejo do analista enquanto desejo do Outro, coisa que compartilha com o desejo de qualquer um, mas o que faz o desejo do analista um desejo que não é para qualquer um, é que este desejo se corporifica no lugar do objeto a não simplesmente enquanto causa do desejo, coisa que ele poderia compartilhar com a histérica, mas enquanto resto, que é o que visa a análise como nos ensina Lacan quando nos diz que o que se espera do analista é que ele analise, "O que define o analista? Já o disse, desde sempre - simplesmente ninguém jamais compreendeu nada, e além disso, naturalmente, a culpa não é minha -, análise, eis o que se espera de um psicanalista." (Lacan, 1992, p. 50). É que o desejo do analisante só poderá advir onde o lugar do sujeito analista estiver vazio para que lá reste o seu, o do sujeito analisante.
         É portanto um lugar, o que Freud deixou vago para ser ocupado por cada analista através do narcisismo das pequenas diferenças, "Na medida em que todo analista repete o ato de Freud sem qualquer outra garantia de ser analista salvo pela transmissão de seu desejo, pode-se dizer que há somente um - o de Freud. É preciso ainda observar que tal desejo se transmite de modo histérico, o que não exclui o narcisismo das pequenas diferenças." (Cottet, 1990, p. 184), narcisismo que terá seu espaço num lugar o qual, paradoxalmente, para além de todo narcisismo, é o de um resto, o de um vazio que antes ocupado pelo Outro, pelo suposto saber, ou pela causa do desejo, passa a ser ocupado pelo desejo do analisante.
         E o mecanismo que dará testemunho desse desejo de analista o qual cada analista, com seu narcisismo próprio, carregará através de seu desejo particular para o lugar de objeto a, é o mecanismo do passe. Passe proposto por Lacan para dar conta de um lugar criado por Freud que por assim dizer, se tornou a matriz de um desejo, um desejo a ser construído por cada um em sua própria análise. Pois se há uma condição para se ocupar o lugar de analista, é a da própria análise de cada um que poderá resultar ou não, no desejo de-ser analista que guardadas as pequenas diferenças reservadas ao narcisismo de cada um, guardará a comunidade com o desejo de cada analista de ocupar o lugar deixado por Freud, o lugar identificado por Lacan, como o do objeto a, o resto, o lixo ou o luxo de ser o que sobra daquilo que na sua origem, deu lugar à transferência que se resolve quando o desejo do analisante, deixando de se repetir no gozo do sintoma, passa a ser desejo de outra coisa.
         Mas do seu próprio desejo só pode dizer cada um. Então, como poderíamos estar a falar de um desejo de analista como se fosse algo geral, de todo analista, ou de todo aquele que chega ao final de sua análise?
         Na verdade, não se pode definir o desejo de analista somente pelo fato de que ele não seja algo geral a todos os analistas, já que o desejo de analista não se confunde com o desejo de cada analista em particular mas, tem a ver sim, como vimos, com um lugar. Ele também é indefinível porque este lugar é o lugar da falta. Falta que estando na ordem do real, é indefinível. Portanto, quanto ao desejo de analista, o máximo que podemos fazer é cercá-lo com significantes que nunca poderão atingir seu centro pois, o desejo de analista por sua natureza, é descentrado em relação a si mesmo, já que se refere a um lugar que não é o de um sujeito mas, sim, o de um objeto. Contudo, permanece a questão: o que convoca um sujeito a querer ocupar o lugar de um objeto como é o que caracteriza o lugar do analista?
         Aqui temos mesmo, duas ordens de coisas. O que convoca um sujeito a ocupar o lugar de analista é a sua transferência com a própria psicanálise ou, em última instância, sua transferência com o significante garantia da verdade que foi Freud e que tem nos seus continuadores, os analistas, o suporte de uma transferência com a verdade.
         O desejo de analista se articula com esta transferência na medida em que as duas coisas se engancham na verdade que sustenta a psicanálise. Verdade que é a do desejo inconsciente o qual só poderá surgir no lugar deixado vago pelo sujeito analista que, de início, enquanto objeto causa de desejo, passa, ao final, a ocupar o lugar de objeto, como resto.
         No entanto resta também, ainda, uma outra questão. Quando o analista em seu ato, enquanto tal, ocupa seu lugar e analisa, este seu ato está em contradição com seu desejo já que o ato exige dele que se coloque como sujeito para o outro. É assim que compreendemos Lacan, quando este diz que o analista tem horror ao seu ato, "Deve-se afirmar que o psicanalista rejeita ocupar esse lugar, ao qual seu ato, contudo, irá fixá-lo. É neste contexto que se situará a seguinte afirmação de Lacan: 'O psicanalista tem horror ao seu ato.' " (Cottet, 1990, p. 185).
         Contudo, o que preserva o desejo do analista em seu ato, é que este dirigi-se não à demanda do analisante frustando-a ou satisfazendo-a mas sim, aos significantes que se revelam no próprio discurso do analisante os quais, mais do que decifrações, se propõem como novos enigmas no lugar dos sintomas, relançando assim o sujeito na direção da sua verdade e preservando, ao mesmo tempo, o lugar da falta.  
         A verdade do desejo do analisante que é suposta pelo analista, decorre dele mesmo já ter vivido, em sua análise, sua própria verdade de seu desejo, o que o coloca diante do desejo de analista que poderá se traduzir ou não em ocupar o lugar de analista, caso haja, ou não, uma transferência, nesse sentido, com a psicanálise representada pela figura do analista.
         De qualquer forma, embora o desejo de analista não implique uma paixão pela verdade como diz Serge Cottet, "Apropriado para pôr de novo em seu lugar as aspirações idealistas que fariam preceder o ato por um apelo irresistível da verdade..." (Cottet, 1990, p. 185), pois que não se trata de uma identificação narcísica à verdade, o analista, na verdade, foi atravessado por ela e, neste atravessamento, seu desejo particular se encontrou, via transferência, com o desejo de analista que não é o desejo de qualquer um em particular mas, o desejo que se agarra a um lugar criado pelo desejo de Freud.
         De certa forma, Freud é o analista de todos nós na medida em que cada analista que ocupa o lugar deixado vago por ele, carrega este desejo de um desejo na forma do lugar que se deixa vago ao surgimento do sujeito do inconsciente. Sujeito que já gritava nas fogueiras da inquisição e nas salas da Salpetriére, mas que só foi ouvido enquanto tal no consultório de Viena.
         E este sujeito que vem ganhando cada vez mais espaço no mundo, paradoxalmente, na psicanálise do além mar, como dizia Lacan, buscou-se amordaçar novamente através da ideologia do eu forte. E mais paradoxalmente ainda, dentro da própria escola que Lacan idealizou, o lugar desse sujeito corre perigo de se estreitar novamente.
         O sujeito que tendo sido atravessado pela sua própria verdade, venha a estabelecer uma transferência com a psicanálise na forma do desejo de ocupar o lugar de analista terá, na experiência do passe, "...é no exterior da cura analítica que se encontrará, ou não, a lógica que a preside. Esse dispositivo é o passe." (Cottet, 1990, p. 185), a oportunidade de testemunhar aos seus pares o seu próprio desejo de analista. Mas essa não é a sua garantia, ela está dada por um lugar que desde Freud está vago e que deve ser ocupado antes de tudo pelo desejo do próprio analista e, também, por aqueles que simbolicamente, como garantia da verdade na instituição, deveriam zelar pelo lugar da falta de um saber estabelecido sobre a mesma, ao invés de se dizerem sabedores de uma verdade que só pode ser um semi-dizer como dizia Lacan.
         O que fazer diante desta dura realidade? A realidade que se impõe quando uma instituição não garante a si mesma como lugar a partir do qual a verdade do analista possa ser ouvida, pois que nela institui-se a cassação da palavra, único lugar em que realmente a verdade pode dizer-se, mesmo que seja a meias palavras.
         Diante de tudo isso, parafraseando Freud, resta-nos recordar, ou repetir, ou ainda, elaborar.
         Recordar que em função de uma hierarquia enrijecida e de critérios mais político/segregatórios do que clínicos, os quais formavam verdadeiras “castas” dentro da instituição psicanalítica, Lacan propõe uma nova escola que tenha como base do laço de trabalho, os mesmos fundamentos que garantem o surgimento da verdade na análise e que se traduzem pelo cartel, pela permutação de funções hierárquicas e pelo passe.
         Ou repetir através de uma distorção da verdade, dentro dos próprios mecanismos sugeridos por Lacan, a ideologia do desconhecimento veiculada pela identificação ao analista na forma do Único que saberia dizer sobre uma verdade a qual não pode ser propriedade de qualquer um, pois que ela corre solta no desfile dos significantes, emergindo de quando em vez em nossas vãs tentativas de dar conta de um real que em última instância, é o real de uma falta-em-ser que só pode ser tocado em uma análise, quando este lugar da falta é preservado pelo desejo do analista decorrente de uma transferência com a psicanálise via uma escola que, ela também, sabendo preservar tal lugar, permita assim, a elaboração da transferência, fazendo surgir o desejo a partir da constatação de que o Outro não existe, e de que o único responsável por seu próprio desejo é o sujeito mesmo.
         Ao final de um cartel sobre o desejo do analista, que ainda é, ao que parece, um dos poucos lugares que ainda restam do que originalmente Lacan propôs como base da psicanálise em intensão, promovendo operadores que em extensão, espalham a psicanálise no mundo, carrego ainda comigo, a transferência com a psicanálise inaugurada por Freud e continuada por Lacan a qual, tenho a esperança, encontrarei corporificada em algum lugar que não seja somente em mim mesmo mas, nalgum laço social que tenha como ponto de identificação, o lugar deixado por Freud e Lacan que não é, a rigor, de ninguém.    

           
          

Bibliografia:
COTTET, S. Freud e o desejo do psicanalista, R. de Janeiro, J. Zahar Ed., 1989.
FREUD, S. Recuerdo, repetición y elaboración, in Obras completas, Madrid, trad. Luiz Lopez Ballesteros y de Torres, Biblioteca Nueva, 1973.
________ La dinámica de la transferencia
________ Consejos al médico en el tratamiento psicoanalítico
________ Observaciones sobre el “amor de transferencia”.

LACAN, J. Do “Trieb” de Freud e do desejo do psicanalista, in Escritos, R. de Janeiro, J. Zahar Ed., 1998.
 _________O seminário VIII, A Transferência, R. de Janeiro, J. Zahar Ed.1992.
 _________O Seminário XI, os quatro conceitos fundamentais da psicanálise,
R. de Janeiro, J. Zahar Ed., 1973.
 _________O Seminário XVII, o avesso da psicanálise, R. de Janeiro, J. Zahar Ed., 1992.
__________Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da escola, in Opção Lacaniana, Revista brasileira internacional de psicanálise, S. Paulo, ed Eolia, 1996, nº 17.

LECOUER, B. O encontro com o desejo do analista, in Opção Lacaniana, nº 16.
NAVEAU, P. A condição inumana, nº 16.
SAURET, MARIE-JEAN A ironia do analista, in Opção Lacaniana, nº 16.
SAGNA LA, P. Um desejo não sem limites, in Opção Lacaniana, nº 16.
STRAUSS, M. O desejo advertido, in Opção Lacaniana, nº 16.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O CÉREBRO E AS DROGAS


                                                                                           A modulação dos sinais
Ao serem transmitidas, as mensagens podem ser modificadas no processo de passagem de um neurônio para outro, e é justamente aí que reside a grande flexibilidade funcional do Sistema Nervoso.
Fateffir
Os elementos químicos usados para essa finalidade chamam-se neurotransmissores, e são sintetizados pelo organismo. Para cada neurotransmissor de um neurônio A existe um receptor no neurônio B que é ativado por ele no momento da neurotransmissão, num contato especial que podemos imaginar como o da chave na fechadura, dada a sua especificidade. Esse receptor, uma vez ativado, incumbe-se do prosseguimento da mensagem no neurônio B e portanto ele apresenta o mesmo grau de importância e responsabilidade que o neurotransmissor no fenômeno da neurotransmissão, e forma com ele um complexo estratégico que pode abrir as guardas para um agente estranho que possa simular a sua própria química, uma verdadeira chave falsa como é o caso das drogas, que veremos no decorrer destas leituras.
São os neurotransmissores que transmitem as ordens de serviço dos nervos para os músculos, vísceras, etc., e também são eles que estabelecem a comunicação entre as várias áreas do SNC. É é ai que eles são modulados proporcionando a flexibilidade que estabelece o rumo de um pensamento, uma afetividade especial ou um maior ou menor grau de sensibilidade frente a um estímulo.
Fateffir
Quando o neurotransmissor já está pronto para entrar em ação, ainda no interior da parte sinática do neurônio A, ele recebe a ordem de partida dada pelos íons cálcio (cujo canal é aberto pelo impulso elétrico), e é liberado para a fenda. Ele atravessa a fenda, dá o seu recado no receptor do neurônio B e volta para a sua célula para ser reciclado antes de nova transmissão.
Em condições normais ele não é re-utilizado sem a devida reciclagem em seu neurônio de origem. Alguns neurotransmissores nem voltam, são desnaturados na fenda ou imediações, ou podem se difundir pelo plasma sangüíneo. O fato é que eles devem ser usados por uma só vez, mas existem procedimentos terapêuticos onde certos neurotransmissores são impedidos do seu retorno para ficarem atuando por mais tempo na fenda. É o caso dos anti-depressivos com relação à serotonina ou alguns outros neurotransmissores como a norepinefrina, e também é o caso da ação de algumas drogas ilícitas como a cocaina, que bloqueia o retorno de um neurotransmissor (DOPA) para reciclagem, concentrando-o na fenda. onde ele continua a agir sobre os seus receptores.
Os neurotransmissores relacionados
Como dissemos anteriormente, os neurotransmissores são sintetizados pelo organismo, mas, como produtos químicos, podem possuir competidores que possuam algumas semelhanças estruturais, suficientes para assumir o seu papel na neurotransmissão, alterando artificialmente essa função. Esse é o caso das drogas psicoativas.
Algumas drogas imitam os neurotransmissores naturais, interagindo com os seus receptores. É o caso da morfina, por exemplo, que se liga aos receptores das endorfinas; da nicotina, que se liga aos receptores da acetilcolina.
Outras drogas aumentam os níveis de neurotransmissores na sinapse, como a cocaina, que aumenta os níveis de dopamina e do Ecstasy, que aumenta os níveis de serotonina na sinapse.
Outras drogas bloqueiam os neurotransmissores, como por exemplo, o álcool inibindo o NMDA, receptor do glutamato, além de imitar os benzodiazepínicos nos receptores do GABA, como veremos.
DOPA ou Dopamina-(Dioxifenilalanina). Nós já vimos que o sistema límbico também pode ser chamado de sistema dopamínico, e isto porque o neurotransmissor dopamina é o mais usado para a comunicação dos neurônios dessa área do encéfalo, que inclui o circuito de recompensa.
A dopamina é responsável por uma série de fenômenos comportamentais e motores (conforme a área do SNC onde está atuando), mas para nós é relevante o conhecimento da sua ligação com o prazer, proporcionando a sensação de euforia; a motivação, a iniciativa.
A dopamina possui dois principais receptores: D1 e D2. Convém lembrar que os medicamentos antipsicóticos agem como antagonistas nesses receptores. Isto quer dizer que a atividade dopamínica incrementa as manifestações psicóticas (quando há predisposição da pessoa).
GABA- É o ácido gama-amino-butírico, neurotransmissor de ação refreadora, inibitória, atenuando os efeitos da excitação quando gerada de forma inconveniente por outros neurotransmissores.
É usado por cerca de 40% dos neurônios do SNC e além do mais, todos os neurônios centrais são sensíveis à sua ação.
O seu principal receptor é o GABAA que tem uma relação íntima com os canais de cloro, promovendo a sua abertura quando ativado. Como já vimos, a entrada de cloro no neurônio faz diminuir o ritmo de pulsação do seu potencial de ação, o seu potencial elétrico, tornando o funcionamento celular mais lento.
Os receptores GABAA são também sensíveis aos benzodiazepínicos, os quais potencializam o efeito inibidor do GABA. Os receptores das benzodiazepinas, aliás, situam-se junto aos receptores GABAA.
Glutamato- É o principal neurotransmissor excitatório do SNC. Sua área de atuação concentra-se nas conexões entre a amídala, o córtex pré-frontal, o hipocampo e mais algumas outras estruturas situadas no diencéfalo.
O glutamato age de forma rápida, qualidade essencial para a transmissão de sinais nas regiões onde atua.
Os receptores do glutamato funcionam como mediadores iônicos (como o GABAA é para o cloro) para o cálcio, magnésio e zinco, de forma a resultar um aumento significativo da excitabilidade celular.
O mais estudado dentre os receptores para o glutamato é o NMDA, alvo de grande interesse entre os pesquisadores em Dependência Química.
Serotonina ou 5HT- É um neurotransmissor intimamente relacionado ao humor e à afetividade. A maioria dos medicamentos chamados antidepressivos age aumentando a sua disponibilidade na fenda sinática.
A serotonina é encontrada em praticamente todas as fibras nervosas do SNC, porém os corpos celulares de sua origem restringem-se ao tronco encefálico nos núcleos de rafe.
A serotonina apresenta um efeito modulador geral da atividade psíquica influindo em quase todas as funções cerebrais, inibindo-as de forma direta ou indireta, através de estímulo do sistema GABA.
É dessa forma que a serotonina, ou 5HT, regula o humor e o sono, a percepção da dor, a atividade sexual, as funções cognitivas, além de inúmeras outras funções fisiológicas como a temperatura corporal e atividades hormonais. Os seus receptores principais denominam-se 5HT1 e 5HT2.
Acetilcolina- Este neurotransmissor apresenta papel relevante em várias funções do SNC como a memória, por sua atuação no hipocampo e outras áreas de função cognitiva, e do sistema nervoso periférico, como a movimentação neuromuscular. Após o seu uso a acetilcolina é desativada ainda na fenda, através da atuação da enzima acetilcolinesterase. Existem dois tipos de receptores para a acetilcolina: os nicotínicos e os muscarínicos. Os receptores nicotínicos unem-se aos canais iônicos, são de natureza excitatória e são estimulados pela nicotina, entre outros. Já os receptores muscarínicos são de natureza inibitória.
Noradrenalina- As vias noradrenérgicas centrais são originárias de uma formação nervosachamada locus coeruleus no tronco encefálico e seguem para extensa área do SNC através de uma abundante ramificação.
Os seus receptores são divididos em duas classes, receptores a e receptores ß.
A noradrenalina (também chamada norepinefrina) tem uma grande variedade de funções, mas sobressai o seu papel em realizar a integração das várias regiões do encéfalo em resposta aos impactos estressores externos que atingem o indivíduo, bem como restaurar o equilíbrio após essas agressões.
Uma das mais importantes funções fisiológicas da noradrenalina é o controle da pressão sanguínea e uma das mais importantes funções da noradrenalina na esfera psíquica é a sua atuação no hipocampo quanto ao controle dos estados afetivos em ação paralela à serotonina.
A noradrenalina também participa nos processos de sedação e analgesia por ativação dos receptores chamados a2.
B-Endorfinas- Pertencem ao grupo dos opiácios endógenos, junto às encefalinas.
No SNC as endorfinas concentram-se em algumas áreas do diencéfalo e mesencéfalo, como no nucleus accumbens, acreditando-se que sejam liberadas pela hipófise por serem encontradas nesse local em maiores quantidades. Desempenham um papel importante na regulação da dor.
As B-endorfinas podem entrar em circulação, podendo ser consideradas neuro-hormônios. Apresentam propriedades analgésicas, ao lado de um efeito colateral hipertensivo. A analgesia por meio da acupuntura parece ser mediada por estas substâncias.
Os receptores das endorfinas são os receptores dos opiácios, e os principais denominam-se receptores mu, descobertos antes mesmo de serem descobertas as endorfinas.
As B-endorfinas, assim como a acetilcolina, são desativadas imediatamente após o seu uso, por ação enzimática.
Fateffir
Interatividade- A dopamina, por si só, é o neurotransmissor relacionado ao prazer, mas este neurotransmissor também desenvolve atividades em conjunto com a serotonina e a noradrenalina, relacionadas da seguinte forma:
Dopamina + serotonina + noradrenalina: Funções cognitivas. Humor. Emoções.
Dopamina + serotonina: Apetite, sexo, agressividade.
Dopamina + noradrenalina: Motivação.
A associação da serotonina com a noradrenalina, sem a dopamina, relaciona-se com a ansiedade e irritabilidade.



TRABALHO DE CUNHO CIENTÍFICO E INFORMATIVO.

PAULA GRAVE LIMA

sábado, 22 de janeiro de 2011

A CLÍNICA DA DEPRESSÃO - MELANIE KLEIN

           Tomemos, como ponto de partida, o texto de Freud (1917 [1915]), “Luto e melancolia”, a fim de percorrer, em outros de seus textos, assim como nas contribuições de Lacan e de Melanie Klein, um caminho de delimitação de cada termo, em articulação com aspectos do caso clínico
apresentado.
           Então, tanto o luto quanto a melancolia, na maioria das vezes, são “reações” diante de uma perda significativa, que pode ser de um ideal ou mesmo de uma “abstração”, como afirmava Freud. Se o luto implica um trabalho de elaboração (Traüerarbeit) frente a uma perda significativa, não sendo, em princípio, patológico, na melancolia não há a possibilidade de simbolizar a perda, tratando-se de uma perda de natureza mais ideal.
           A melancolia se caracteriza por um desânimo profundamente penoso, cessação de interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda a produtividade, e uma
diminuição dos sentimentos de auto-estima – “sentimento de estima de si” – a ponto de encontrar expressão em se recriminar e em se degradar, culminando ainda numa expectativadelirante de punição. No luto, “a perturbação da estima de si” está ausente, assim como a expectativa delirante de punição.
         Da mesma forma, a perda que se apresenta no luto diz respeito a uma perda objetal, já na melancolia, a perda objetal transforma-se em uma perda relativa ao eu. Freud (1917[1915], p. 251) afirma que: “no luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio eu”.
         O paciente melancólico representa seu eu como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível. Na melancolia, há uma identificação narcísica com o objeto, o que explicaria a tendência ao suicídio. Abordamos algumas semelhanças e diferenças entre a melancolia e a neurose obsessiva, tecendo considerações sobre a pulsão de morte, que se manifesta em ambas as estruturas, assumindo faces diferentes, a saber: pulsão de destruição na melancolia e pulsão de dominação na neurose obsessiva.
             Discutimos a relação entre depressão e melancolia a partir de autores  contemporâneos, como Urania Tourinho Peres e Antonio Quinet, uma vez que, ao longo da obra de Freud, esses termos aparecem muitas vezes empregados como sinônimos ou acoplados em uma única expressão, tais como ‘depressão melancólica’.
            Destacamos que, na época em que Freud viveu, não havia um discurso em torno da depressão, como constatamos atualmente em nossa cultura, seja porque as pessoas não viviam até os oitenta ou noventa anos como vivem hoje, seja porque a velhice em si não era uma questão na época.
            Enquanto o termo melancolia marcou presença no mundo grego, em Hipócrates e Aristóteles, e entre os autores clássicos da psiquiatria, em que havia uma concepção romântica da melancolia, não sendo vista como doença, mas como própria da natureza do ser; o termo depressão surge apenas mais tarde, com a psiquiatria alemã, sendo concebida como uma doença e até mesmo
como o “mal do século”. Na nosologia psiquiátrica atual, a melancolia de outrora cede lugar à depressão, diagnóstico que vem abarcando qualquer queixa de tristeza, na medida em que toda e qualquer tristeza toma ares de “depressão”, devendo ser devidamente tratada e, na melhor das
hipóteses, medicada.
                O ponto central aqui discutido é a  “covardia moral”, formulação de Lacan (1974, p.44), a partir de Espinosa, que exigiu que retomássemos a relação do sujeito com o próprio desejo, já que o sujeito deprimido cede de seu desejo, acovardando-se diante dele:
            A tristeza, por exemplo, é qualificada de depressão ao lhe conferir como suporte a alma; ou a tensão psicológica do filósofo Pierre Janet. Não se trata, porém, de um estado d’alma, é simplesmente uma falta moral, como se expressa Dante e até mesmo Espinosa: um pecado, o que quer dizer, covardia moral, que só se situa, em última instância, a partir do pensamento, ou seja, do dever de bem-dizer ou de orientar-se no inconsciente, na estrutura.
           É justamente quando o sujeito se acovarda frente ao seu desejo, dele abrindo mão, que surge a depressão. Podemos dizer que o sujeito fica inibido, furtando-se ao próprio desejo e, conseqüentemente, a sua determinação inconsciente. A depressão é, portanto, uma reação do eu, que, ‘inchado’, recusa aquilo que vem do inconsciente, não querendo saber daquilo que o determina.
            Alberti   (1989), em “Depressão: o que o afeto tem a ver com isso”, refere que Lacan foi criticado por desconsiderar a questão do afeto, o que se justifica pelo fato deste retomar o tema para explicar não apenas a depressão como a angústia. No Seminário 10, sobre a angústia, Lacan aborda a questão do afeto, partindo do campo da filosofia – de São Tomás a Espinosa. Destaca
dois tipos de afeto: a angústia e a depressão, correlacionando-a com a inibição, tratada por Freud (1926 [1925]) em “Inibições, sintomas e angústia”.
          No texto mencionado, Freud afirma que a palavra inibição é utilizada quando há uma redução da função, o que ele contrapõe ao sintoma que, na verdade, acrescenta uma nova manifestação da função. A inibição seria, ainda, a expressão da restrição de uma função do eu, através da qual
este evita entrar em conflito com o isso, ou seja, com algo que lhe escapa. Dessa forma, o eu empobrece funcionalmente, mantendo, no entanto, sua supremacia sobre o recalque. Na inibição, o sujeito se vê aterrorizado frente ao perigo que o antecipa – castração –, ficando ‘paralisado’ diante disso. Há uma tentativa de se antecipar frente ao perigo da castração.
            Para Freud (1926[1925], p. 94), portanto, a depressão é uma inibição generalizada, ou seja,
“limitações das funções do eu, fugas – por precaução ou por empobrecimento de energia”.
              Podemos, portanto, associar a depressão à inibição, já que tanto a depressão quanto a inibição são gerados pelo eu – reações do eu.
              Mas, de acordo com Alberti (2002, p.156), a depressão é um afeto que aparece no momento em que o eu evita a sua determinação inconsciente, razão pela qual Lacan (1974) afirma que adepressão é basicamente uma “covardia moral”. Ou ainda, como esclarece em Televisão:
a depressão é um afeto normal porque ele reenvia ao fato de estrutura de que nos furtamos de bem dizer nossa relação ao gozo - ao inverso do sintoma, novamente, que surge para dizê-la de
alguma forma.
              Podemos dizer que a depressão é um afeto que aparece no momento em que o sujeito evita sua própria determinação inconsciente, cede de seu desejo, abre mão dele, “não quer saber” daquilo que o determina.
             Na depressão, o eu para não correr o risco de se deparar com a castração, entristece – sendo a tristeza o afeto da depressão, qual seja, uma baixa de energia psíquica –, se deslibidiniza. Há uma perda da libido, que implica em perda de prazer, de investimento libidinal, marcado pela disjunção entre o sujeito e o prazer da libido.
              Segundo Colette Soler (apud Alberti, 2002, p.223): aquele que realmente assume esta inconsistência - ou seja, por que o sujeito precisa ficar doente para se dar conta da enorme verdade de sua inconsistência? -, como se assume a castração, o afeto decorrente não é o de tristeza, pois o encontro com a castração é um horror de tal ordem que não pode provocar como efeito senão o entusiasmo.
            Devemos considerar que lidar com a castração, com a falta, ao contrário de provocar tristeza deveria ter como efeito o entusiasmo, já que o desejo pode emergir. Sem falta, não há desejo possível, e, certamente, sem desejo, não há sujeito, na medida em que, para Lacan, o sujeito é o desejo, e mais especificamente desejo do Outro.
            Realizamos, ainda, uma breve incursão sobre a teoria da posição depressiva em Melanie Klein, associando o trabalho do luto a um processo que integra a constituição do sujeito, não sendo, portanto, patológico, e que influencia a maneira pela qual o sujeito poderá lidar com perdas
futuras. Para a autora, a posição depressiva seria, portanto, estruturante, como formadora da constituição do eu.
                Abordamos a relação existente entre o desejo, a falta e a lei, a partir do estudo do grafo dodesejo, conforme proposto por  Lacan nos Escritos e no Seminário 5 – As formações do
inconsciente, para discutirmos a relação entre o desejo e a demanda e, por fim, entre a depressão e o desejo, já que, na depressão, o sujeito cede de seu desejo e, conseqüentemente,
burla a falta.
              Se a depressão se instala justamente quando o sujeito abre mão de seu desejo, como afirma Lacan, perguntamo-nos o que a análise propõe ao sujeito que se diz “deprimido”?
             De acordo com Stella Jimenez (1999, p.202), o desejo constitui “a primeira e única riqueza do ser humano”. Ao operar pela via da palavra, a psicanálise propõe ao sujeito a ética de bem-dizer o seu desejo. A psicanálise, mais especialmente o discurso do analista, no qual o analista ocupa o lugar de objeto a, causa de desejo, poderia auxiliar o sujeito a resgatar seu desejo.
             Em oposição à ética defendida pela psicanálise, o discurso capitalista exclui o sujeito, ao tentar
renegar/foracluir a falta – o que é da ordem da impossibilidade. A depressão, então, aparece como um produto da cultura que, ao oferecer um verdadeiro arsenal de medicamentos antidepressivos, produz a oferta que cria uma demanda de sujeitos que se ‘encaixam’ nessa categoria, digamos assim.
             Ao mesmo tempo em que aparentemente acolhe o sujeito, que se agarra a tal significante – tomado aqui mais como signo – irá excluí-lo, já que a depressão contraria os ideais de produtividade e do capitalismo da nossa cultura. Ou seja, da mesma forma que há uma exclusão pela própria cultura, o sujeito sente-se incluído, protegido através desse signo – a depressão.
            Tal fato demonstra claramente como opera, de forma paradoxal, o discurso capitalista que “inclui
para excluir”, propiciando uma aparente proteção, deixando o sujeito desorientado em relação a sua riqueza maior – o seu desejo.
           Assim, o sujeito neurótico ‘histérico’, ficando deprimido, encontraria uma maneira de dizer ‘estou fora’ dessa cultura maníaca e onipotente, de dizer ‘eu não quero gozar assim’. Pode se ‘desculpabilizar’ por não ter que responder aos ideais de produtividade, podendo então, não trabalhar e dormir o dia todo. Na verdade, porém, a única maneira do sujeito não se sentir culpado serianão abrindo mão do seu desejo, já que toda a vez que o sujeito cede diante do desejo, a culpa
advém. Em outras palavras, sustentar o próprio desejo, tarefa essa já considerada difícil, tem se tornado quase que impossível na nossa cultura.
          De acordo com Alberti (2000, p. 46), o discurso do analista pode, no entanto, vir a ser a “única saída para a ausência de saída do discurso capitalista”, no sentido de subvertê-lo ao reinstaurar a falta e permitir que advenha o desejo. Mas, para que isso aconteça, o sujeito precisa ter coragem, em oposto à covardia do deprimido e pagar um preço por ser desejante.
          A psicanálise põe em cena o desejo, possibilitando ao sujeito redimensionar sua forma de lidar com a castração e assumir pagar o preço de sustentar a singularidade de seu desejo.
          Partindo do legado de Freud, Lacan considera a castração como o ponto a partir do qual a estrutura se organiza e toma o complexo de Édipo como um ‘operador da estrutura’. A castração passou a ser vista como uma lei e o falo como um significante – da falta. A lei à qual o
significante está submetido é a lei da castração simbólica, que instaura a falta estrutural, presente para cada sujeito a partir de sua entrada no mundo da linguagem.
         Podemos reconhecer que a depressão não é apenas um produto da cultura, que fabrica sujeitos que se encaixem sob esse signo, mas, essencialmente, uma maneira do sujeito evitar lidar com o desejo, não respondendo à demanda do Outro social – ‘Goze!’ Imerso no mundo da linguagem, o sujeito se depara com a falta, a todo instante, até mesmo sob a forma de uma depressão, quediz tudo sem nada dizer.
          Se a medicina tende a oferecer respostas quase que automáticas, na forma de tentar medicar o mal-estar e a ‘dor de existir’ que devem ser eliminados a qualquer custo – como se isso fosse possível –, a psicanálise convida o sujeito a falar, fazendo vigorar a falta. É interessante observarmos que, apesar do avanço da terapêutica antidepressiva, o sujeito continua buscando um acolhimento diverso da medicalização, que a psicanálise pode oferecer.
          Acreditamos que a psicanálise ocupa, na atualidade, um lugar ímpar: acena com o caminho do
desejo como o melhor remédio para tratar da angústia que é inerente ao ser humano. Pois, como já nos dizia Lacan (1962-63, p.115), “o melhor remédio para a angústia é o desejo”.
         Considerando que a depressão é o oposto do desejo. Enquanto sujeito deprimido cede de seu desejo, a psicanálise começa por ajudá-lo a sair desse estado de ‘letargia’, efeito de evitar a falta. Certamente, não há como falarmos em desejo sem considerar a falta, a angústia, enfim, o mal-estar, sempre presente para o ser falante, que, ao falar, reencontra continuamente a falta.
        A articulação entre depressão e desejo, que buscamos trabalhar na dissertação, é uma questão que exige a atenção do psicanalista, seja pela atualidade do tema, seja pela discussão sobre o que esta pode revelar acerca do lugar do analista em sua função de instigar o desejo, função esta que consideramos não apenas fundamental, mas única na nossa cultura.

Referências Bibliográficas
ALBERTI, S. Depressão: o que o afeto tem a ver com isso? In: Atas das Jornadas Clínicas para o
Corte Freudiano, dezembro de 1989, p. 102-9.
_____; ELIA, L. (org.). Clínica e pesquisa em psicanálise. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos,
2000.
_____“Os quadros nosológicos: depressão, melancolia e neurose obsessiva” In: Extravios do
desejo: depressão e melancolia. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2002. p. 217-227.
FREUD, S. Obras Completas. Buenos Aires: Amorrortu, 1982.
_____“A sexualidade na etiologia das neuroses” [1898], ESB, v.III
_____“Sobre a psicoterapia” (1905 [1904]), ESB, v. VII.
_____“Nossa atitude para com a morte”[1915], ESB, v. XIV.
_____“Sobre a transitoriedade” (1916[1915]), ESB, v. XIV.
_____“Luto e melancolia” (1917 [1915]). ESB, v. XIV.
_____ “Inibições, sintomas e angústia” (1926 [1925]). ESB, v. XX.